A
elaboração das fichas
Ana Margarida Pereira
Ana Margarida Pereira – Bolseira
de Iniciação Científica – Projecto
POCI
O trabalho de catalogação e inventariação do espólio
do teatro de marionetas dos Bonecos de Santo Aleixo foi considerado
como uma das tarefas principais do Projecto de investigação. Foi
realizado recorrendo, com ligeiras alterações, ao modelo de ficha
de identificação proposto pelo investigador John McCormick na ocasião
do seminário realizado em Dezembro de 2005 no âmbito do projecto.
De acordo com a diversidade e a tipologia das informações a serem
registadas, a ficha é subdividida em onze campos encabeçados por
uma referência inicial.
1) referência
No início de cada ficha de identificação temos aquilo a
que podemos chamar de referência com as letras CDE – Centro Dramático
de Évora; depois a letra B – para os Bonecos; A – para os
Adereços, sendo que aqui incluímos tudo o que é utilizado
pelos bonecos de forma directa; e R – para Retábulo, que inclui
tudo o que não é directamente utilizado pelos bonecos e que diz
respeito ao palco e/ou aos cenários. Acrescenta-se o número e ficamos,
portanto, com a referência inicial completa.
2) descrição
No primeiro ponto da ficha é feita uma descrição relativamente
detalhada do objecto que dá conta do modo como é construído,
bem como de algumas das suas particularidades. Descrevem-se o corpo, os membros
e a cabeça do boneco, procurando tornar possível a sua visualização.
3) medidas
O segundo ponto diz respeito às medidas do objecto. Aqui tentamos seguir
um modelo mais ou menos “standard” para que quem venha a consultar
as fichas possa ter uma melhor noção dos objectos em comparação
uns com os outros. Esta tarefa é facilitada se os critérios para
medir os objectos forem sensivelmente os mesmos. Assim, temos a altura total
do boneco com o controlo, a medida só do boneco, a medida de ombros e
a altura da cabeça. Quando se dá o caso dos bonecos terem adereços
de cabeça, por exemplo, ou algum outro acessório, são apresentadas
medidas mais detalhadas.
4) peso
No terceiro ponto é apresentado o peso total do objecto.
5) manipulação
O ponto quatro diz respeito às notas de controlo e manipulação.
Neste ponto optamos por seguir as designações que Alexandre Passos
nos apresenta na sua obra Bonecos de Santo Aleixo – a sua (im)possível
história. Os bonecos são todos de sistema de manipulação
simples ou combinado, isto é, simples quando a manipulação é feita
apenas com um varão, e combinado quando é feita com varão
e fios. Há alguns bonecos que Alexandre Passos designa de uma forma mais
precisa, como por exemplo os cágados que são chamados marionetas
de harmónio. Este ponto foi sempre preenchido seguindo o critério
do referido autor.
6) materiais
No quinto ponto são enumerados os materiais usados na construção
do objecto. Eventualmente numa fase posterior da investigação esta
informação pode ser extremamente interessante e útil, visto
que o facto dos bonecos serem todos construídos mais ou menos com os mesmos
materiais nos pode levar a questionar o porquê disso. Uma questão
de economia? Facilidade de acesso a materiais e abundância?
7) vestuário
Segue-se o sexto ponto que diz respeito às peças de vestuário
e aos materiais usados. Aqui é feito um trabalho descritivo. Seguimos
o critério de distinguir a roupa exterior da interior e, começando
sempre pelas peças de dentro para fora, esclarece-se em que materiais
são confeccionadas. Não me vou alargar mais neste assunto porque
a Diana na segunda parte deste seminário vai debruçar-se sobre
isto e fá-lo-á seguramente melhor do que eu estou apta a fazer.
8) pintura
No sétimo ponto dizemos qual o tipo de pintura do objecto e enumeramos
quais os elementos que são pintados. Neste campo permanecem por esclarecer
mas já estabelecemos contacto com alguém que nos poderá dar
uma ajuda preciosa nesse sentido. Por enquanto julgamos que é tudo basicamente
feito à base de tinta de água.
9) registo fotográfico
O ponto oito diz respeito ao registo fotográfico. Foi o Paulo Nuno que
fez as fotografias, eu limitei-me simplesmente a sugerir quais as fotos e detalhes
que deviam ser tirados. Temos as fotografias que se aproximam da imagem de fazer
o cadastro dos bonecos, mas depois e consoante cada boneco ou cenário
são fotografados detalhes interessantes. O Paulo Nuno falará sobre
isso e irá mostrar-vos o seu trabalho.
10) desenho
O nono ponto é o de desenho de detalhes. Como o John McCormick tinha explicado,
o desenho torna-se importante na medida em que a fotografia acaba por ser mais
estática. Olhando apenas para uma fotografia pode ser difícil à partida
ter uma noção e visualização de movimento. Complementando
as fotografias com os desenhos damo-nos conta de uma forma de manipulação
mais específica e detalhes de movimento, como os reis que movimentam a
coroa, por exemplo. São desenhados também pormenores da junção
dos objectos.
11) função do objecto
No ponto dez esclarecemos qual é o papel e a função do objecto,
qual a personagem que representa, com que outras contracena, onde são
utilizados os cenários, que adereço é aquele e quem o utiliza,
etc.
12) particularidades
Finalmente, o ponto onze, que nós decidimos acrescentar ao modelo da ficha
que o John McCormick nos sugeriu, está reservado para algumas observações.
Dá conta de algumas particularidades que o boneco possa ter. Por exemplo,
há um dos bonecos que tem um papel preso com um alfinete que diz “falta”.
Não sabemos ao certo a origem deste papel, mas não deixa de ser
curioso. Cabem aqui detalhes como o facto dos cágados terem patas de chumbo
quando todos os outros bonecos têm patas, pés ou botinas em madeira,
ou como o pormenor de um boneco (que de momento não me recordo qual é)
que tem os pés para dentro (provavelmente por mero acaso). Acredito que
coisas deste género num trabalho de catalogação são
importantes.
Em relação às fichas de identificação é o
que tenho a dizer. Há coisas que faltam completar, o que contamos fazer
em breve com a colaboração de algumas pessoas.
A recolha de testemunhos
Entretanto resolvi iniciar um trabalho de investigação por outro
campo. É complicado investigar um tema do passado porque, quase na ausência
de bibliografia e documentação, torna-se insuficiente ir a uma
biblioteca ou à Internet para pesquisar. Há muito pouca coisa escrita
sobre os títeres alentejanos e particularmente sobre os Bonecos de Santo
Aleixo. Assim, como o John McCormick já adiantou um pouco, eu pensei que
uma forma de recolher dados poderia passar simplesmente por contactar com pessoas.
Procurei falar com pessoas com mais de sessenta anos e fazer-lhes sempre o mesmo
tipo de perguntas como: qual foi o espectáculo mais representado? Qual
a altura do ano em que eram mais frequentes?, etc. no fundo o que me parece mais
importante é a tentativa de descobrir que forma é que toma (ou
que foi ganhando com o passar do tempo) a memória que as pessoas têm
dos Bonecos de Santo Aleixo. Trata-se de um trabalho que está numa fase
muitíssimo embrionária e do qual ainda não tirei grandes
conclusões.
Como já disse não há muita documentação específica
relativa aos Bonecos de Santo Aleixo, pelo que procurei fazer um levantamento
bibliográfico de obras que, não dizendo directamente respeito ao
tema do projecto, julgo que podem eventualmente vir a ser interessantes e úteis.
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