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 TEXTOS > ANA MARGARIDA PEREIRA > 01
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ANA MARGARIDA PEREIRA
01. A elaboração das fichas
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Brunella Eruli
01. La marionnette: paroles, bruits, musique
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Christine Zurbach
01. Erudito e popular: a recepção teatral dos “Bonecos de Santo Aleixo”.
Algumas notas para a sua investigação.

02. Bonecos de Santo Aleixo (BSA) / CENDREV: dados de um percurso
(com Paula Seixas)
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DIANA REGAL
01. Os Bonecos de Santo Aleixo um parente próximo das Bonecas Tradicionais Populares Portuguesas
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PAULA SEIXAS
01. Bonecos de Santo Aleixo (BSA) / CENDREV: dados de um percurso
(com Christine Zurbach)
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John McCormick
01. The music of the popular puppet theatre in 19th-century England
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JOSÉ Alberto Ferreira
01. Da cortiça ao digital: a questão do arquivo
para o estudo dos Bonecos de Santo Aleixo
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A elaboração das fichas

Ana Margarida Pereira

Ana Margarida Pereira – Bolseira de Iniciação Científica – Projecto POCI

O trabalho de catalogação e inventariação do espólio do teatro de marionetas dos Bonecos de Santo Aleixo foi considerado como uma das tarefas principais do Projecto de investigação. Foi realizado recorrendo, com ligeiras alterações, ao modelo de ficha de identificação proposto pelo investigador John McCormick na ocasião do seminário realizado em Dezembro de 2005 no âmbito do projecto.
De acordo com a diversidade e a tipologia das informações a serem registadas, a ficha é subdividida em onze campos encabeçados por uma referência inicial.

1)   referência
No início de cada ficha de identificação temos aquilo a que podemos chamar de referência com as letras CDE – Centro Dramático de Évora; depois a letra B – para os Bonecos; A – para os Adereços, sendo que aqui incluímos tudo o que é utilizado pelos bonecos de forma directa; e R – para Retábulo, que inclui tudo o que não é directamente utilizado pelos bonecos e que diz respeito ao palco e/ou aos cenários. Acrescenta-se o número e ficamos, portanto, com a referência inicial completa.

2) descrição
No primeiro ponto da ficha é feita uma descrição relativamente detalhada do objecto que dá conta do modo como é construído, bem como de algumas das suas particularidades. Descrevem-se o corpo, os membros e a cabeça do boneco, procurando tornar possível a sua visualização.

3) medidas
O segundo ponto diz respeito às medidas do objecto. Aqui tentamos seguir um modelo mais ou menos “standard” para que quem venha a consultar as fichas possa ter uma melhor noção dos objectos em comparação uns com os outros. Esta tarefa é facilitada se os critérios para medir os objectos forem sensivelmente os mesmos. Assim, temos a altura total do boneco com o controlo, a medida só do boneco, a medida de ombros e a altura da cabeça. Quando se dá o caso dos bonecos terem adereços de cabeça, por exemplo, ou algum outro acessório, são apresentadas medidas mais detalhadas.

4) peso
No terceiro ponto é apresentado o peso total do objecto.

5)   manipulação
O ponto quatro diz respeito às notas de controlo e manipulação. Neste ponto optamos por seguir as designações que Alexandre Passos nos apresenta na sua obra Bonecos de Santo Aleixo – a sua (im)possível história. Os bonecos são todos de sistema de manipulação simples ou combinado, isto é, simples quando a manipulação é feita apenas com um varão, e combinado quando é feita com varão e fios. Há alguns bonecos que Alexandre Passos designa de uma forma mais precisa, como por exemplo os cágados que são chamados marionetas de harmónio. Este ponto foi sempre preenchido seguindo o critério do referido autor.

6) materiais
No quinto ponto são enumerados os materiais usados na construção do objecto. Eventualmente numa fase posterior da investigação esta informação pode ser extremamente interessante e útil, visto que o facto dos bonecos serem todos construídos mais ou menos com os mesmos materiais nos pode levar a questionar o porquê disso. Uma questão de economia? Facilidade de acesso a materiais e abundância?

7) vestuário
Segue-se o sexto ponto que diz respeito às peças de vestuário e aos materiais usados. Aqui é feito um trabalho descritivo. Seguimos o critério de distinguir a roupa exterior da interior e, começando sempre pelas peças de dentro para fora, esclarece-se em que materiais são confeccionadas. Não me vou alargar mais neste assunto porque a Diana na segunda parte deste seminário vai debruçar-se sobre isto e fá-lo-á seguramente melhor do que eu estou apta a fazer.

8) pintura
No sétimo ponto dizemos qual o tipo de pintura do objecto e enumeramos quais os elementos que são pintados. Neste campo permanecem por esclarecer mas já estabelecemos contacto com alguém que nos poderá dar uma ajuda preciosa nesse sentido. Por enquanto julgamos que é tudo basicamente feito à base de tinta de água.

9) registo fotográfico
O ponto oito diz respeito ao registo fotográfico. Foi o Paulo Nuno que fez as fotografias, eu limitei-me simplesmente a sugerir quais as fotos e detalhes que deviam ser tirados. Temos as fotografias que se aproximam da imagem de fazer o cadastro dos bonecos, mas depois e consoante cada boneco ou cenário são fotografados detalhes interessantes. O Paulo Nuno falará sobre isso e irá mostrar-vos o seu trabalho.

10) desenho
O nono ponto é o de desenho de detalhes. Como o John McCormick tinha explicado, o desenho torna-se importante na medida em que a fotografia acaba por ser mais estática. Olhando apenas para uma fotografia pode ser difícil à partida ter uma noção e visualização de movimento. Complementando as fotografias com os desenhos damo-nos conta de uma forma de manipulação mais específica e detalhes de movimento, como os reis que movimentam a coroa, por exemplo. São desenhados também pormenores da junção dos objectos.

11)  função do objecto
No ponto dez esclarecemos qual é o papel e a função do objecto, qual a personagem que representa, com que outras contracena, onde são utilizados os cenários, que adereço é aquele e quem o utiliza, etc.

12)   particularidades
Finalmente, o ponto onze, que nós decidimos acrescentar ao modelo da ficha que o John McCormick nos sugeriu, está reservado para algumas observações. Dá conta de algumas particularidades que o boneco possa ter. Por exemplo, há um dos bonecos que tem um papel preso com um alfinete que diz “falta”. Não sabemos ao certo a origem deste papel, mas não deixa de ser curioso. Cabem aqui detalhes como o facto dos cágados terem patas de chumbo quando todos os outros bonecos têm patas, pés ou botinas em madeira, ou como o pormenor de um boneco (que de momento não me recordo qual é) que tem os pés para dentro (provavelmente por mero acaso). Acredito que coisas deste género num trabalho de catalogação são importantes.
Em relação às fichas de identificação é o que tenho a dizer. Há coisas que faltam completar, o que contamos fazer em breve com a colaboração de algumas pessoas.

A recolha de testemunhos
Entretanto resolvi iniciar um trabalho de investigação por outro campo. É complicado investigar um tema do passado porque, quase na ausência de bibliografia e documentação, torna-se insuficiente ir a uma biblioteca ou à Internet para pesquisar. Há muito pouca coisa escrita sobre os títeres alentejanos e particularmente sobre os Bonecos de Santo Aleixo. Assim, como o John McCormick já adiantou um pouco, eu pensei que uma forma de recolher dados poderia passar simplesmente por contactar com pessoas. Procurei falar com pessoas com mais de sessenta anos e fazer-lhes sempre o mesmo tipo de perguntas como: qual foi o espectáculo mais representado? Qual a altura do ano em que eram mais frequentes?, etc. no fundo o que me parece mais importante é a tentativa de descobrir que forma é que toma (ou que foi ganhando com o passar do tempo) a memória que as pessoas têm dos Bonecos de Santo Aleixo. Trata-se de um trabalho que está numa fase muitíssimo embrionária e do qual ainda não tirei grandes conclusões.

Como já disse não há muita documentação específica relativa aos Bonecos de Santo Aleixo, pelo que procurei fazer um levantamento bibliográfico de obras que, não dizendo directamente respeito ao tema do projecto, julgo que podem eventualmente vir a ser interessantes e úteis.

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