Graças
a vários factores que, nas últimas décadas,
contribuíram para a revisão da sua verdadeira importância
no conjunto das formas de teatro mundial, o teatro de marionetas
pode ser considerado hoje como uma arte privilegiada. Além
de ter suscitado, pelo seu dinamismo e criatividade, uma nova
recepção junto dos espectadores de teatro em geral,
despertou também o interesse dos estudiosos de teatro,
mais recentemente organizados em departamentos, cursos ou projectos
de investigação nas Universidades. O conhecimento
erudito e aprofundado do teatro de marionetas tem a particularidade
de manter uma grande proximidade com as práticas dos artistas
que, ora procuram conservar tradições ainda bem
vivas na cultura contemporânea, ora procuram contribuir
para a experimentação de formas novas, influenciados
pela evolução mais recente das artes performativas.
O caso dos Bonecos de Santo Aleixo surge como um exemplo perfeito da situação
actual do teatro de marionetas que acaba de ser descrita. Enquanto espólio
antigo, sob o impacto das transformações culturais e sociais da
nossa modernidade, encontrava-se ameaçado de desaparecer se não
tivesse sido entregue aos actores-marionetistas do Cendrev que, desde finais
dos anos 1980, asseguram a sua apresentação regular ao público
local, regional, nacional e internacional. Sedeados em Évora, os Bonecos
também passaram a ser objecto de estudo assim que os Estudos Teatrais
foram criados na Universidade de Évora. Foi no seu Centro de História
da Arte (CHA/UE) que nasceu em 1997 a investigação desse teatro,
no seguimento do trabalho insubstituível já
realizado pelo actor Alexandre Passos na fase de recolha
e transmissão do repertório e do espólio
ao Cendrev.
Por ter sido considerada relevante para o conhecimento da vida teatral portuguesa,
quer na sua expressão mais tradicional, quer nas suas manifestações
actuais, a candidatura autónoma do projecto de investigação
intitulado “Os Bonecos de Santo Aleixo no passado e presente do teatro
em Portugal” e apresentado em parceria com o Cendrev, em 2004, ao programa
de apoio comunitário POCTI/FSE/FEDER no âmbito dos Concursos de
Projectos de Investigação & Desenvolvimento abertos pela Fundação
para a Ciência e a Tecnologia, mereceu a aprovação de um
financiamento que apoia todas as vertentes do trabalho a desenvolver entre 2005
e 2007, em torno da recolha e da interpretação das fontes relativas
aos BSA e da análise da sua recepção actual.
A equipa constituída por actores-manipuladores e universitários
nacionais e estrangeiros iniciou em 2006 o trabalho de investigação
do espólio de acordo com os objectivos principais do projecto, nomeadamente,
o de sistematização e disponibilização da informação
relativa ao espólio existente. Agora disponibilizada em formato digital
no “site” do Centro de História da Arte, tal divulgação
permite internacionalizar a investigação teatral feita em Portugal,
além de permitir ao público em geral o acesso à investigação.
Nesse campo, destacam-se a organização de seminários abertos
ao público (2005, 2006 e 2007) e a publicação dos materiais
existentes (2007). Ao garantir a estabilidade do projecto, este financiamento
vem em boa hora confirmar a justeza do trabalho realizado até hoje e a
validade do empenho de quem, artista ou investigadore, acredita na necessidade
(e a urgência) de manter viva a memória cultural dos povos.
Christine Zurbach
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